Em 1888 a maçonaria começava a tramar o fim do Império Brasileiro. Então os vereadores de São Borja, no Rio Grande do Sul, votaram um requerimento que exigia, no caso de falecimento de Dom Pedro II, os brasileiros fossem consultados a respeito ou não da oportunidade de um terceiro reinado.
O motivo? O fato de a Princesa Isabel, que era quem tinha por direito a sucessão ao trono, ser ultracatólica. No texto do documento se dizia que caberia decidir "por meio de um plebiscito se convém a sucessão ao trono brasileiro de uma senhora obcecada por uma educação religiosa".
A ação orquestrada da maçonaria contra a Princesa Isabel foi o fato mais importante e imediato relativo à queda do império.
Antes do requerimento ser votado na câmara de São Borja ele fora discutido na Loja Maçônica, Vigilância e Fé, em tais termos:
"A maçonaria que se levante, opondo-se firmemente, no caso da morte do imperante, à sucessão de Isabel. Que evite por todos os meios...a coroação da princesa. O povo que se autogoverne e a maçonaria intervenha para a fundação de um governo livre e moralizado".
Embora o Grande Oriente do Brasil não tenha tomado posição oficial sobre o documento - dado que estava dividido entre monarquistas e republicanos - várias figuras de proa da maçonaria assinaram o documento como Campos Salles, Prudente de Morais, Quintino Bocaiúva, Benjamin Constant, Rangel Pestana, Francisco Glicério, Aristides Lobo, Lauro Sodré, etc. Cabe lembrar que Constant, Glicério e Lobo foram os grandes articuladores da ação de 15 de novembro de 1889 contra Dom Pedro II.
Em Santos, estado de São Paulo, em 1888, aproveitando o requerimento de São Borja, o líder maçom Antônio da Silva Jardim, deu início a fortes manifestações pela criação da república. Várias cidades aderiram ao requerimento inclusive o Rio de Janeiro, capital do império.
Os maçons apresentavam Isabel como mais interessada no bem da Igreja que no da pátria, "hoje nós passamos o dia inteiro na Igreja, começando por assistir à missa" escrevia Isabel ao marido em 1875. O papa Leão XIII, em reconhecimento pela Lei Áurea, lhe concedeu a rosa de ouro, alta honraria dada pela Sé romana. Ao recebê-la em 1888 das mãos do núncio apostólico, jurou obediência ao papa. Para a elite maçônica, presente na vida política do Brasil, era inaceitável que a futura imperatriz ficasse ao lado do papa, pois isso implicaria na aplicação, dentro do país, das decisões de Pio IX contra a maçonaria que envolvia o apoio para que bispos excomungassem católicos filiados a seita.
Em suma: a "proclamação" da república foi um golpe maçônico. A fim de manter seu controle sobre as estruturas de poder no Brasil e de continuar a interferir diretamente no processo governamental, ela armou uma trama para impedir que a Princesa Isabel moralizasse o governo tirando dele a interferência desta seita oculta que age sob a direção de líderes secretos. Isabel queria livrar o país de uma sociedade que segue suas próprias leis e que age ocultando seus propósitos reais. Isabel, neste ponto, era mais republicana que os maçons republicanos, na medida em que ela queria um governo liderado por pessoas sem vínculos com sociedades ocultas, estranhas a qualquer controle público. A maçonaria, na medida em que se furta ao controle externo, se põe entre as mais perigosas associações pois impede a população como um todo, o acesso ao exame de suas ações e o conhecimento de seus agentes e de suas reais intenções quanto a temas políticos, religiosos, sociais. Um povo sob o tacão de um grupo secretista, que age nas sombras, é um povo escravo. Era disso que Isabel queria nos livrar.
Bibliografia:
Gomes, Laurentino. 1889. Rio de Janeiro, Editora Globo, 2013.
#Rafael Queiroz
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