Caros nesta semana comemoramos a semana santa onde refletimos sobre os mistérios centrais de nossa salvação e sobre os eventos que a oportunizaram: a paixão, morte, e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Cristo assume a figura do servo sofredor tipificada pelo Profeta Isaías. Em todos os profetas que foram perseguidos e mortos antes de Cristo vemos prefigurada sua paixão.
Logo importa entendermos qual foi exatamente a natureza de sua condenação a morte, da qual muito se fala mas pouco se entende.
É comum dizer que Jesus foi levado a julgamento por dois processos: um político, dirigido a Pilatos, governador romano da Judéia, onde constava a acusação de que ele tinha se feito Rei dos Judeus. Outro religioso dirigido a Caifás, sumo sacerdote e chefe do Sinédrio naquele ano, tribunal penal religioso ligado a estrutura sacerdotal do Templo de Jerusalém. No processo religioso Cristo era acusado de se fazer o Filho de Deus.
Jesus tinha se declarado Messias e pretendia para si a dignidade real mas de um modo diferente. Reivindicar isso era um delito para a Lex Romana.
Afinal quem de fato desejaria a morte de Jesus? O Evangelho de João sublinha a atuação da liderança do templo e da aristocracia e chama-os de judeus ( Pois as lideranças na medida em que são autoridades constituídas representam o povo inteiro); Marcos em seu evangelho indica com o termo “Ochlos” que foi a massa quem quis a morte de Cristo. Ou seja autoridades e o povo queriam a morte de Jesus. Todo o povo e todas as autoridades? Não é claro! Haviam partidários de Jesus no Sinédrio e entre o povo mas estes eram minoria. Daí podemos inferir que o povo judeu se tornou culpado da morte de Deus pelo fato de o pecado das autoridades ter sido imputado a todo o conjunto do povo judeu. Era assim que Deus agia no Antigo Testamento: quando sacerdotes e reis pecavam, todo o povo era punido. Alguns dirão que essa linguagem se trata de uma metáfora, mas não é assim; a revelação sempre ensinou que o pecado do povo era sempre reflexo dos pecados de seus guias, de seus líderes. Toda sociedade é reflexo de suas autoridades que são os que dão o tom para as massa; dão as elites que dirigem a sociedade e se elas estão corrompidas, corromperão os demais grupos sociais. Assim a culpa da elite judaica da época se estende a todo corpo nacional, a todos os judeus. Não a toa a Tradição Católica classifica-os como deicidas. Há que lembrar das conseqüências coletivas dos pecados individuais. Uma prova do que dizemos é o enfoque do Evangelho de São João. Quando ele foi escrito havia uma dura perseguição do Império Romano aos cristãos. Por que então João adotou um enfoque que culpabilizava sobretudo os judeus e não os romanos? João tinha motivos para retratar Pilatos como maior culpado em face da perseguição de Roma, mas não o fez preferindo ressaltar no processo de Jesus que os judeus eram de quem falava quando disse que “aqueles que te entregaram a mim tem maior culpa“; certamente João preferiu ser fiel aos fatos históricos.
Embora a maior culpa fique com os judeus, Pilatos não pode ser absolutamente desculpado pelo crime de ter condenado Deus Filho a morte na Cruz. Por quê ?
Em geral há a tendência de apresentar Pilatos como um político pragmático que não quis se envolver com o caso para não por em risco sua relação com Roma e com o Imperador Tibério.A Palestina era um problema geopolítico para o Império; era um local estratégico de ligação entre Ocidente e Oriente, área de rotas comerciais importantes, fundamental para garantir o controle e a defesa do vasto território imperial mas ao mesmo tempo foco de constantes revoltas lideradas por fanáticos que tencionavam restaurar o tempo de Davi e a pureza da religião judaica e da terra de Israel comprometida com a ocupação de um império pagão.
Pilatos interroga Jesus e nesse interrogatório faz a célebre Pergunta : “ Tu és Rei?”; da resposta dada a ela dependia o destino de Jesus. E Ele responde “sim eu o sou mas meu reino não é deste mundo”. Que pensou Pilatos de tal conceito de reino e de realeza? Jesus liga a sua realeza a VERDADE. Jesus diz que a essência de sua realeza é o testemunho da verdade.
A questão que nasce daí é a seguinte: Pode a política assumir a verdade para a sua estrutura? Ou deve deixar a verdade restrita ao âmbito pessoal, subjetivo e tentar assim criar a paz e a justiça só com os critérios do poder?
Hoje em dia dada a dificuldade de se encontrar um consenso sobre a verdade cada vez mais se propõe como caminho político o relativismo e o pragmatismo. No entanto sem a verdade é possível a justiça? Não é verdade que as grandes ditaduras totalitárias existiram graças a mentira ideológica e que só a verdade traz a libertação?
São Tomás diz que “ a verdade está no intelecto de Deus em sentido próprio e em primeiro lugar enquanto no intelecto humano está em sentido derivado” (De veritatis , q. 1 , a. 4c). O mundo é verdadeiro na medida em que reflete Deus. O homem se torna verdadeiro quando se conforma a Deus. Deus é a medida do ser. A perdição do mundo consiste em que os homens não decifram a verdade, não reconhecem a verdade o que conduz ao domínio do útil de do cômodo, e deste modo faz do poder dos fortes o deus deste mundo. A realeza de Jesus é o reino da Verdade.
Pilatos será então ameaçado pelos Judeus “se o soltas não és amigo de César” (Jo 19, 12). A preocupação de Pilatos com a carreira e com o poder foi mais forte que sua convicção de que Jesus era um homem justo.
O processo de Jesus revela então o drama da existência humana no mundo.
Para entendermos isso preciso é voltarmos nosso atenção para o Mito da Caverna, do Filósofo Platão.
O Mito da Caverna, também conhecido como “Alegoria da Caverna” é uma passagem do livro “A República” do filósofo grego Platão. É mais uma alegoria do que propriamente um mito. É considerada uma das mais importantes alegorias da história da Filosofia. Através desta metáfora é possível conhecer uma importante teoria platônica: como, através do conhecimento, é possível captar a existência do mundo sensível (conhecido através dos sentidos) e do mundo inteligível (conhecido somente através da razão). O mito fala sobre prisioneiros (desde o nascimento) que vivem presos em correntes numa caverna e que passam todo tempo olhando para a parede do fundo que é iluminada pela luz gerada por uma fogueira. Nesta parede são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. Os prisioneiros ficam dando nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações. Imaginemos que um dos prisioneiros fosse forçado a sair das correntes para poder explorar o interior da caverna e o mundo externo. Entraria em contato com a realidade e perceberia que passou a vida toda analisando e julgando apenas imagens projetadas por estátuas. Ao sair da caverna e entrar em contato com o mundo real ficaria encantado com os seres de verdade, com a natureza, com os animais e etc. Voltaria para a caverna para passar todo conhecimento adquirido fora da caverna para seus colegas ainda presos. Porém, seria ridicularizado ao contar tudo o que viu e sentiu, pois seus colegas só conseguem acreditar na realidade que enxergam na parede iluminada da caverna. Os prisioneiros vão o chamar de louco, ameaçando-o de morte caso não pare de falar daquelas idéias consideradas absurdas.
Os seres humanos tem uma visão distorcida da realidade. No mito, os prisioneiros somos nós que enxergamos e acreditamos apenas em imagens criadas pela cultura, conceitos e informações que recebemos durante a vida. A caverna simboliza o mundo,no seu estado de desordem, mentira e pecado, pois nos apresenta imagens que não representam a realidade. Só é possível conhecer a realidade, quando nos libertamos destas influências culturais e sociais, ou seja, quando saímos da caverna. O sol que ilumina o mundo externo é símbolo do Bem que para Platão é o Deus supremo. Este bem é a verdade que ilumina e liberta das trevas .A verdadeira realidade não é a aparência do mundo mas Deus mesmo.
Platão ao falar de um homem que se livra da caverna e volta para esclarecer seus amigos usa uma alegoria para falar de Sócrates que foi condenado a morte em Atenas por causa da filosofia ou seja de seu amor a verdade. Sócrates acusa os líderes de Atenas de não governarem segundo a verdade; será isso o que irá motivar seu assassinato. Sócrates é um tipo de Cristo, uma prefiguração do messias que vindo a este mundo de trevas o ilumina com a verdade.
O mesmo que se deu com Sócrates se dá com Cristo; ele ao acusar as autoridades de seu tempo irá atrair para si a ira delas. Cristo as acusa de distorcer a lei de Deus, de hipocrisia, de exploração dos fiéis, de terem transformado o templo em covil de ladrões.
Uma tal acusação só poderia atrair para Cristo o ódio.E nela está expresso o ódio a verdade que é marca do homem desde sua queda no paraíso. O homem ao escolher a si odiou a Deus que é a verdade e se tornou filho do Pai da Mentira que é Satanás.
O processo de Jesus é a narrativa da luta entre o reino de Deus e o Reino do Diabo, entre a cidade de Deus e a cidade dos Homens , entre e Jerusalém celeste e a Babilônia (cidade que representa o orgulho e o pecado dos homens).
No fim em Pilatos venceu a interpretação prática do direito: mais importante que a verdade, para Pilatos era a “pacificação”. A não condenação de Jesus podia prejudicá-lo e também provocar revoltas e desordens que era preciso evitar.
Para Pilatos a paz foi mais importante que a justiça. Naquela hora Jerusalém tranquilizou-se. Mas no decorrer da história o fato de que a paz não pode ser estabelecida contra a verdade iria manifestar-se.
Tal drama prova a ilegitimidade das tentativas atuais do clero católico, através de ecumenismos, diálogos interreligiosos e colaboração com os poderes deste mundo aceitando princípios como laicidade, separação estado–igreja, liberdade religiosa, de estabelecer uma paz civil, uma convivência pacífica entre diferentes culturas e credos , sem a verdade. Isso nos lembra o escândalo dos Encontros de Assis onde ao invés de gritar em bom e alto som que só NOSSO SENHOR JESUS CRISTO é a verdade, entregaram igrejas e templos católicos para que pagãos adorassem falsos deuses tudo com a aprovação das altas autoridades católicas. Não há paz fora da realeza de Cristo, a paz sem a verdade é calmaria momentânea , aparência de tranqüilidade.
Que a Paixão de Cristo nos faça tomar consciência da necessidade de lutar contra a Nova Ordem Mundial que quer fundir todas as religiões dentro de um ideal ecológico , pacifista e ecumênico onde a verdade que é Cristo será relegada a segundo plano.Resistamos também ao projeto de demolição da verdade dentro da Igreja onde clérigos impõem a agenda do relativismo.
Uma santa semana santa para todos!
#Rafael Queiroz